top of page
Buscar
  • Foto do escritorYanara Miranda

A HOMOAFETIVIDADE DOS HOMENS HETEROSSEXUAIS

A cultura heterossexual masculina é homoafetiva. Os homens héteros destinam o amor a outros homens e o olhar para a mulher é apenas de servidão e sexo. “Dizer que um homem é heterossexual implica somente no fato de que ele mantém relações sexuais exclusivamente com o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que diz respeito ao amor, a maioria dos homens heterossexuais reservam exclusivamente para outros homens. ”


O comportamento homoafetivo, ou seja, tudo que é relacionado ao amor (afeto), acaba ficando entre eles. “As pessoas que eles admiram, respeitam, adoram, reverenciam, a quem honram, imitam, idolatram e formam profundos vínculos, a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender, e cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam, essas são, esmagadoramente, outros homens. ”


Esses homens não estabelecem relações de confiança com mulheres, somente com homens. Não criam laços afetivos com mulheres, ao contrário, muitas vezes são misóginos e exaltam a figura masculina. Basta fazer o teste e pedir, a qualquer homem, para citar mulheres que eles admiram, não vai ir além de mãe, irmãs, primas, esposa, namorada – ou seja, servidão, sexo e cuidado. Admiração, afeto genuíno e gratuito, não são destinados a mulheres.


Eles não têm interesse em mulheres. Não são elas que eles buscam ler, consumir conteúdos para o conhecimento, ou qualquer coisa para além do sexo e servidão. Ídolos, inspirações, confidentes, conselheiros, amizades verdadeiras, apoio emocional, cumplicidade e relações de igualdade e respeito, tudo isso só tem valor para um homem hétero se partir de outro homem hétero.


Não é comum ver homens héteros exaltando uma personalidade feminina ou até um homem gay, eles exaltam, amam homens héteros. Pelo contrário, eles repudiam qualquer comportamento que uma mulher tenha, que seja parecido com qualquer comportamento de um amigo. Eles se protegem, e no julgamento moral deles, quem sempre ganha é o outro homem hétero.


Homens repudiam uma traição feminina, a colocam no lugar mais baixo que existe na humanidade, mas acolhem outros homens que traem suas namoradas e esposas, inclusive, guardam segredo sobre as traições dos amigos, mas não de mulheres, a menos que estejam envolvidos nela ou possam se “beneficiar” com isso. Homens riem de mulheres no trânsito e endeusam os amigos imprudentes que andam acima da velocidade. A amizade com uma mulher, muitas vezes, faz parte do ‘’jogo’’ da conquista, não é algo genuíno, pois para homens, mulheres não servem para ser apenas amigas.


Uma mulher andando sozinha ouve todo tipo de absurdo, se for à noite corre um imenso risco. Já se estiver acompanhada de um homem esse risco diminui consideravelmente. Toda mulher, em uma festa, já disse ‘não’ para um homem se justificando por ter namorado, pois a justificativa plausível é ter alguém e que seja outro homem. E se esse companheiro chega perto, a desculpa pelo incômodo não se direciona à mulher, mais ao homem: ‘’seu dono’’. Isso porque homens não respeitam mulheres, homens só respeitam outros homens.


O pacto da masculinidade explica, também, essa homoafetividade. Outro homem pode cometer o erro que for, que eles continuam a se proteger. Se for preciso, eles inviabilizam a narrativa de outra mulher, eles permanecem em silêncio conivente, eles pagam para diminuir a pena do crime que o outro homem hetero cometeu, eles ridicularizam uma mulher para defender o outro homem hetero, não se importam de desdenharem do universo feminino.


Outros pontos a refletir, é em relação ao grande número de comportamentos abusivos por parte de muitos homens, que culturalmente, no Brasil ainda é bem comum, e refletem ao ódio que muitos têm por mulheres. Eles se importam excessivamente com o próprio prazer e com o tamanho de seus órgãos genitais e, não conhecem, não pesquisam e não tem interesse em saber do corpo feminino, muitos têm nojo dos fluidos femininos. Eles assediam mulheres na rua para provar sua “masculinidade” para outros homens, se incomodam com mulheres com maior poder intelectual e financeiro que eles. Quem lembra do clube do bolinha? Pois então, ele ainda existe, mas com um novo nome, ‘brotheragem’, se você não sabe do se trata, nem queira saber, mas saiba que tudo é feito no ‘sigilo.


Os homens amam os homens. Eles nos explicam o tempo todo o quanto amam as mulheres, mas todas sabemos que isso é bobagem. Eles se amam, entre eles. Eles se observam no cinema, eles se reservam os melhores papéis, eles se acham poderosos, eles se gabam, não conseguem se conter por serem tão fortes, belos e corajosos. Eles escrevem uns para os outros, eles se parabenizam, eles se apoiam. Eles têm razão. Mas, entre as coisas que lhes foram corretamente inculcadas, existe o medo de ser gay, a obrigação de amar as mulheres. Então, passam longe das outras coisas. Reclamam, mas obedecem. De passagem, batem em uma garota ou duas, furiosos por se sujeitarem. Virginie Despentes

REFERÊNCIA:

  • Teoria King Kong” (Virginie Despentes). Retirado da página Ventre Feminista

  • Marilyn Frye filósofa e pesquisadora estadunidense

  • Papo de Homem , Canal de conteúdo do Instituto PDH. Atuam com treinamentos, palestras e ações pró-equidade pensadas especialmente para homens.

  • Ser Cabra Macho, Coletivo formado para promover o debate sobre masculinidades e parentalidades com foco na igualdade de gênero.

  • bell hooks - "Tudo sobre o amor"

  • Livro "Seja Homem" JJ BOLA


IMAGEM

artista Léo Vargas


0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

留言


bottom of page