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  • Foto do escritorYanara Miranda

A SOBRECARGA FEMININA

A sobrecarga feminina corresponde ao trabalho feito a mais e invisível. A construção social de que tarefas domésticas são afazeres destinados as mulheres, fez com que essa carga ficasse apenas com elas. No momento da educação base, a divisão generificada do trabalho aparece. Existe um gênero que é ensinado e existe um gênero que se beneficia. A educação sobre funções domésticas não é justa e igual. Na vida adulta, isso fica muito evidente.


Desde muito cedo, dentro de uma casa, os afazeres práticos de limpeza e cuidado, são apenas ensinadas as meninas. A responsabilidade de executar e entender toda a dinâmica de uma casa, são delas. Isso tudo, somado ao que a sociedade entende sobre o que é ser mulher, ao longo da vida, faz com que as mulheres tenham experiências distintas e consequentemente, mecanismos de comportamentos voltados para essas responsabilidades. Diferente de como os meninos são educados, consequentemente suas estruturas de comportamentos também serão distintas. O sexismo, como um todo, gera bases cognitivas distintas para cada gênero e os danos são experimentados nas relações.


Quando a vida adulta cobra tais responsabilidades, de forma mais assertiva, os homens não sabem pensar na dinâmica doméstica, pois não foram educados para tais responsabilidade, como as mulheres foram. E aí, a conta não fecha. Em relacionamentos heterossexuais, tem alguém que se sobrecarrega, e a gente sabe muito bem quem é essa pessoa.


“Não existe nada biológico que leve as mulheres a exercer esse papel, mas interessa que continuem a fazer esse trabalho de graça. É o que permite manter o sistema. A criação dos filhos e o trabalho doméstico colocam a mulher nesse esquema graças ao patriarcado. Uma sociedade dominada pela classe masculina, que deteve o poder político e religioso durante séculos e manteve o controle sobre as mulheres, especialmente sobre sua capacidade reprodutiva, é um poder essencial”.  ilustradora francesa Emma Clit

Ainda vivemos em uma sociedade que insiste em nomear os afazeres domésticos executado pelos homens como: ajuda. Mas mais que nomear, os homens se colocam em papeis de coadjuvantes nas tarefas do lar. A maioria se limita a executar as ordens que, muitas vezes, devem ser verbalizadas mais de uma vez. gênero masculino nos casais heterossexuais tem alergia ao comando e à tomada de grandes decisões que deixa, quase sempre, nas mãos de mulheres. Mesmo os homens que foram educados para serem seres funcionais, ou que por algum motivo, na vida adulta, entenderam suas responsabilidades, ainda sim, o mecanismo social fez com que eles não aprendessem a pensar na dinâmica doméstica. Com isso, a sobrecarga feminina é coisa certa.


Ou o homem não faz nada. E aí nesse caso, além da sobrecarga mental tem a física. Ou o homem executa de igual para igual – aliviando a sobrecarga física – mas não sabe pensar, deixando pesada a sobrecarga mental. Exemplos: Quem marca o médico dos filhos? Quem dá os remédios no horário? Quem lembra das reuniões da escola? Quem sabe que é hora de comprar roupas novas dos filhos, porque todas estão pequenas? Quem sabe o tamanho da fralda, a marca do leite? Quem sabe o nome da professora? Quem lembra das tarefas escolares? Quem pensa no jantar e lembra de tirar a carne do freezer? Quem lembra das roupas no varal? Quem pensa em toda a dinâmica de uma mudança ou uma faxina antes de executar? Homens não são educados a pensar. Seus privilégios de gênero fizeram e fazem com que eles não precisem executar essa dinâmica, com isso, não aprendem a ser seres integrais.


A sobrecarga feminina é o trabalho invisível e pouco valorizado que faz com que a cabeça das mulheres não parem de trabalhar enquanto seus parceiros relaxam diante da televisão. A carga mental, isto é, a quantidade de esforço não físico e deliberado que deve ser realizado para alcançar um resultado concreto, é quase sempre assumida por elas.


A sobrecarga (mental) é silenciosa e essa característica a torna duplamente desonesta. A sociedade não a reconhece porque não valoriza nem remunera o trabalho doméstico, apesar de ser um pilar fundamental da economia. E a recente aceitação das tarefas domésticas por parte dos homens forneceu-lhes o álibi perfeito para demonstrar sua corresponsabilidade e dar o assunto por encerrado.


Ainda tem uma parte muito triste nessa história: a maneira como mulheres foram educadas e cobradas, faz com que seu desenvolvimento social não permita delegar. Muitas mulheres acreditam realmente que as tarefas doméstica e de cuidado com os filhos são de sua total responsabilidade, ou ficam com a sensação de que ninguém vai fazer tão bem como elas. Mas isso tudo são consequências de uma educação de subordinação de gênero desproporcional.


Segundo estudo anterior, só 24% das mulheres são capazes de se despreocupar da tarefa deixada para os outros, enquanto 72% admitem criticar e fiscalizar a forma como os outros fazem as coisas. “Deixa que eu faço, eu acabo antes”; “Vou sair, mas deixei comida pronta para vocês na geladeira”; “Se você não souber onde está algo me chame” – essas deveriam ser frases proibidas no vocabulário de qualquer aspirante a se desvencilhar da sua carga mental. “Embora também haja mulheres que podem ver na equidade uma perda de poder. Pelo menos na casa mandam elas. Podem ser perfis de gente com trabalhos pouco gratificantes ou valorizados; que sentem que, pelo menos em casa, são imprescindíveis”, diz essa psicóloga Violeta Alcocer


Antes de mais nada, é preciso tirar esse peso invisível, esse trabalho imaterial que paira como um fantasma, assombrando a vida de quem o suporta.  O primeiro passo para reduzir essa carga é tomar consciência da situação e iniciar o diálogo com as pessoas do convívio.


Mudanças na educação base. Desfazer, de uma vez por todas, a diferença de gênero na educação e criação. Meninos e meninas precisam ser criados com as mesmas responsabilidades. Na vida adulta, homens precisam despertar de seus privilégios, passando a ter gosto pela independência. No campo social e político, precisamos de remuneração e atenção adequada para o trabalho doméstico. A sobrecarga feminina não é questão simples de resolver, mas como toda construção social, é possível de desfazer.


REFERÊNCIAS:

  • Emma Clit ilustradora francesa, escreveu uma historia em quadrinho explicando a exaustao que as mulheres sofrem pela "carga mental feminina"

  • Violeta Alcocer psicóloga

  • “Para Educar Crianças Feministas” e “Sejamos Todos Feministas” Chimamanda Ngozi Adichie

  •  “O Segundo Sexo” Simone de Beauvoir

  • “O feminismo é para todo mundo” bell hokks

  • “Feminismo em Comum” Marcia” Tiburi

  • Livro "Seja Homem" JJ BOLA


IMAGEM

Artista Hugo Alberto

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