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  • Foto do escritorYanara Miranda

BRINQUEDO DE MENINO X BRINQUEDO DE MENINA

Quem definiu que existe brinquedo de menina e brinquedo de menino? Por que, ainda, se faz essa diferenciação? Com certeza não foram as crianças que fizeram essa separação. Como, também, não foram as crianças que inventaram a diferença dos gêneros.


Como já vimos em conversas anteriores, gênero é construção social e cultural que se faz sobre o sexo biológico. São os aspectos sociais atribuídos ao sexo. São características sociais e não algo biológico. O gênero, portanto, se refere a tudo aquilo que foi definido ao longo do tempo e da história e que a nossa sociedade entende como o papel, função ou comportamento esperado de alguém com base em seu sexo biológico. (leia o texto sobre gênero- https://www.trocaseconversas.com.br/post/g%C3%AAnero)


As crianças são generificadas antes mesmo de nascer. Antes mesmo, de serem uma vontade dos pais ou de estarem no útero da mãe, já são colocadas em padrões impostos. Dessa forma, são impedidas de fazer escolhas, de descobrirem suas habilidades, de serem apenas crianças. Para a educadora sexual Maria Helena Vilela, diferenciar brinquedos, cores (azul x rosa) e comportamentos (agressividade x delicadeza) “permitidos” para meninos e meninas é um “desrespeito às potencialidades das crianças”.


De todas as fases da vida, a infância - especialmente a primeira infância - é um momento importante, pois é nesse período que a criança está desenvolvendo suas capacidades cognitivas, emocional, psicossocial. Quando direcionamos o olhar para esse momento da vida, nós nos deparamos com inúmeros mecanismos que perpassam a formação das crianças, dentre os quais se encontram os brinquedos e o brincar. Ao brincar, a criança aprende a ser.


“Os brinquedos e as brincadeiras estão ligados a um contexto cultural. Nos jogos lúdicos a criança promove uma imitação do adulto e daquilo que ela observa […] Quando a criança brinca, tudo que está em seu entorno interessa, desperta curiosidade: elas querem experimentar. Quanto mais ela estiver livre para explorar, descobrir, mais rica será essa experiência, e maior, a sua aprendizagem”. Maria Angela Barbat

Contudo, não podemos fazer de conta que essa dimensão infantil nada carrega do mundo real. Ao contrário, muitas vezes ela é planejada para suprir necessidades de um mundo que já perdeu seu encanto. As crianças não têm preconceitos de gênero. É a sociedade que impõe e ensina essa diferenciação, quando limitam os papeis das crianças (ex: isso não pode, não é coisa “de menina”) acabam limitando o processo de aprendizado da criança nas atividades lúdicas, e por consequência estimulam preconceitos futuros dos mais bobos como “mulher não sabe dirigir” aos mais sérios como “homem não pode chorar”.


Os brinquedos em si não têm género. Não existe nenhum condicionante físico ou psicológico para uma pista de carros não ser utilizada por uma menina, ou uma boneca não ser escolhida por um menino. É normativa a exploração das crianças por diferentes brinquedos, brincadeiras e atividades, independentemente do que socialmente é atribuído a cada género.


O brinquedo é considerado por Vygotsky, como o principal meio de desenvolvimento cultural da criança. Experiências sociais e culturais são incorporadas pela criança através do brinquedo. Fazendo uso da imaginação a criança pode transformar os objetos e as formas de comportamento produzido e disponibilizado em seu ambiente específico.


Os pais, a sociedade, constroem o primeiro ambiente de brinquedos da criança, antes mesmo que ela comece a fazer suas escolhas. É o que chamamos de estereótipos de gênero: a crença de que certos comportamentos e certos objetos são naturalmente: de meninas e outros de meninos. Os brinquedos são direcionado a cada gênero conforme o que a sociedade (adultos) esperam de meninos e de meninas.


Já avançamos quando o assunto é brinquedo de meninas. Aviões, carros, bola de futebol, entre outros, são permissíveis as meninas. O empoderamento feminino conseguiu desmitificar esses lugares. Porém, meninos brincando com bonecas, ainda é um grande preconceito. Associam apenas, a brincadeira de casinha ou de boneca com orientação sexual, e esquecem que ambas as brincadeiras são repertório de cuidado, autocuidado, autonomia e afeto.


Quando a criança brinca, ela aprende. Crianças que brincam de casinha, de cozinhar, de boneca, estão aprendendo o cuidado com o outro, o cuidado consigo mesmo, o cuidado com suas próprias coisas, a responsabilidade, a autonomia. A sociedade não se incomoda em ensinar e incentivar esses afazeres para as meninas, desde muito cedo. Mas quando é um menino que tem a oportunidade de entrar em contato com os afazeres domésticos, através de brinquedos, ou em aprender o cuidado com o outro, ao brincarem com bonecas, o tabu logo aparece. É inegável a possibilidade, que estas brincadeiras têm em ensinarem aos meninos a serem pais presentes e seres responsáveis por suas próprias demandas domésticas. Para além disso, é preconceito de adulto inserido na generificação de tudo.


O marketing em brinquedos se dirige inicialmente aos adultos e, como temos os estereótipos de cores, papéis e personagens muito internalizados, tendemos a ter uma escolha enviesada. ” Às vezes, os brinquedos e seu marketing são de um machismo evidente, como quando na embalagem de um conjunto de tintas em purpurina só aparece uma menina e na de uma escavadeira a foto é de um menino. '"Cristina, da Babymachismos.


Não podemos esquecer que as diferenças de gêneros são feitas pelos olhos do adulto. A criança apenas está sendo apresentada a esse mundo, que o adulto já criou para ela. O mundo infantil está carregado de estereótipos de padrões de gênero – destruindo possibilidades, abafando potencias, limitando capacidades – tudo em nome de pré-conceitos. 


Gostaria de saber, quando a sociedade vai incentivar crianças a serem apenas crianças? Quando vamos deixar de ter lojas de brinquedos e roupas infantil separadas por gênero? Quando vamos ver crianças apenas como crianças? Assim, podemos refletir sobre a possível contribuição dos diferentes brinquedos para o desenvolvimento das crianças. Deixá-la optar pelos brinquedos que quer, para além de permitir que explore o seu mundo e se desenvolva, podemos promover a comunicação e autonomia.


Não existe brinquedo de menino e brinquedo de menina. Existe brinquedos para crianças – separados por faixa etária de idade, de acordo com riscos ou dificuldade – mas sempre, brinquedo de criança.



REFERÊNCIAS:

  • Maria Angela Barbat pedagoga Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC)

  • Maria Helena Vilela educadora sexual

  • Vygotsky psicólogo, proponente da Psicologia histórico-cultural.

  • Portal Lunetas - Um portal de notícias para ampliar múltiplos olhares sobre as muitas infâncias do Brasil

  • Instituto Alana - Comunicação, advocacy e informação para os direitos das crianças e adolescentes.


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