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  • Foto do escritorYanara Miranda

GLOSSÁRIO 1

O glossário é uma espécie de dicionário de palavras, que serve para explicar o significado de alguns termos, que por algum motivo, não são conhecidos pelas pessoas. Nos glossários, podem aparecer palavras que são conhecidas apenas por pessoas familiarizadas com a área de conhecimento. De forma geral, os glossários são fundamentais para compreendermos conceitos e democratizarmos a linguagem.


Linguagem estrutura comportamentos. Por isso, é importante repensarmos e resignificarmos nossa forma de falar e se expressar. Expressões negativas relacionadas a raça ou a cultura especifica de um determinado povo ou povos podem ser corrigidas através do letramento racial. Com diálogos e reflexões necessárias, para que as pessoas parem de reproduzir simplesmente aquilo que ouviram, sem ao menos saberem a origem equivocada destes termos, o quão ofensivo eles são e, o quanto contribuem para reproduzir preconceitos.


Nesse caso, esse glossário, é utilidade pública. Aqui, vou apresentar palavras e termos que precisamos aprender e outros que precisamos ressignificar (dar novo sentido), mais que isso, precisamos banir (expulsar) do nosso vocabulário, e vocês vão entender porque. Nosso primeiro glossário é sobre termos e expressões racistas:


ESCRAVOS: termo que faz referência a uma condição natural. Quando na verdade, pessoas foram submetidas ao processo de escravização. Então, são povos escravizados e não escravos.


COR DA PELE: aprende-se desde criança que “cor da pele” é aquele lápis rosado, bege. Mas é evidente que o tom não representa a pele de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil. *Trocar por exemplo, por: branco, pardo, amarelo, preto. Inclusive, hoje em dia existem varias marcas que coleções de lápis de cor compatível com a realidade.


DOMÉSTICA:  pessoas negras eram tratadas como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados” *Trocar por exemplo, por: funcionário (a), colaborador(a), auxiliar


"A DAR COM PAU": expressão originária dos navios negreiros. Muitas das pessoas capturadas preferiam morrer a serem escravizadas e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obriga-las a se alimentarem, um “pau de comer” foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca.


DENEGRIR: sinônimo de difamar. Possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa” (branca).


CRIADO MUDO: pessoas escravizadas que atendiam os serviços na casa dos senhores, eram denominados de criados. Muitos delas ficavam dedicados a servir água, utensílios, e muitos outros pertences pessoais dos senhores, sem descanso. Muitas eram punidas por falar, até mesmo por se mexerem. Na criação do móvel que fica ao lado da cama como suporte para tais itens, passaram a chama-lo de criado mudo. Termo racista que é reproduzido desde o período da escravidão. Não replique e substitua por mesa de cabeceira.


"INVEJA BRANCA": a ideia do branco como algo positivo é impregnada nessa expressão. A intensão é amenizar um sentimento que é ruim, utilizando a palavra “branca”, como sinônimo de coisa boa, do bem. Aqui nem cabe substituição do termo, já que inveja é um sentimento que não merece ser cultivado.


"DIA DE BRANCO": um termo referente ao dia útil de trabalho. Eu desconheço povo que mais trabalhe do que o povo negro, então, essa expressão não faz sentido algum.


"CABELO RUIM": fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima das mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias dos países europeus, se beneficiaram dos padrões de beleza que exclui as pessoas negras.


"NEGRO(A) DE TRAÇOS FINOS": a mesma lógica do clareamento se aplica á “beleza exótica”. Tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum, estranho. Como se dizer essa expressar, seria amenizar os traços afro. Como se os traços das pessoas negras precisasse ser finos . As pessoas utilizam, inclusive, essa expressar em forma de elogio.


MORENO(A): pessoas acreditam que chamar alguém de negro ou preto é ofensivo. Falar de outra forma, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incomodo”.


"TER UM PÉ NA COZINHA": infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido para as mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil.


"SERVIÇO DE PRETO": mais uma vez a palavra preto aparece como sinônimo de algo ruim. Dessa vez, representa uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro. Como também, expressões “mercado negro”, “lista negra”, “ovelha negra”, “a coisa tá preta”.


"NÃO SOU TUAS NEGAS": mulheres negras escravizadas eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer seus desejos sexuais, em um tempo em que assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de racismo o termo é carregado de machismo.


"SAMBA DO CRIOLO DOIDO": a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros. Mais uma vez, utilizando o povo negro para se referir a algo ruim.


"BAIANAGEM/BAIANADA": expressão racista e xenofóbica utilizada como sinônimo de algo muito colorido, confuso, malfeito.


"COR DO PECADO": utilizado como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado é ainda mais negativa, em uma sociedade pautada na religião, como a sociedade brasileira.


MULATA: na língua espanhola, se refere ao filho macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. Além de associar a expressão com a sensualidade e sexualização da mulher negra.


"FEITO NAS COXAS": as telhas das casas eram moldadas nas coxas das pessoas escravizadas e cada corpo é diferente, as telhas não ficavam no mesmo formato e, por isso, estariam malfeitas por ficarem irregulares e mal encaixadas. Além da expressão fazer alusão ao período da escravidão, também, se refere a algo negativo.


ÍNDIO: termo equivocado dado pelos invasores europeus ao pensarem que estavam chegando na Índia. Os milhares de povos originários que já viviam nos territórios que foi posteriormente configurado como Brasil, já possuíam seus nomes, línguas, memoria, história, cultura e ancestralidade.


"PROGRAMA DE ÍNDIO": expressão preconceituosa com conotação negativa em relação aos povos originários, reforçando o apagamento cultural dos mesmos, que são diversos e plural.


"ÍNDIO É PREGUIÇOSO": os invasores europeus divulgaram a ideia de que os indígenas não gostavam de trabalhar em razão da recusa dos indígenas em serem escravizados, bem como, os povos africanos, que sempre resistiram a escravização. Fazendo com que a sociedade, ate nos dias de hoje, acredite que essa ideia é verídica.


TRIBO: é uma palavra “emprestada” para identificar, de forma humilhante, um determinado grupo humano. Tribo é um pequeno grupo que tem origem numa nação ou país, que usam um certo linguajar, vestimentas, símbolos. São grupos dependentes da economia nacional, sem autonomia e sem organização social própria, submetidas as leis nacionais.  Isso é uma tribo.  Os indígenas não têm uma tribo - porque tem autonomia, independência, organização social, língua, economia e manifestações culturais que distinguem das nacionais. E sim, fazem parte de um povo – povos originários.


*esse glossário ficará em aberto, para novos termos e expressões que aparecerem no nosso caminho social.


REFERÊNCIAS:

  • Cartilha “o racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro”

  • Renata Novaes- líder do projeto respeito as diferenças e direto de conteúdo audiovisual na plataforma dente.


IMAGEM: Lilia Quinaud



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