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  • Foto do escritorYanara Miranda

HOMENS: VOCÊS ESTÃO DISPOSTOS?

Eu acredito na possibilidade, mas entendo que ainda são poucos os homens dispostos, verdadeiramente. É preciso tentar. “Eu nunca acreditei que o movimento feminista, devesse ser e, que fosse um movimento só de mulheres. (...) repetidas vezes, homens me falam que não tem a menor ideia de o que feministas querem. Acredito neles. Acredito na capacidade que eles têm de mudar e crescer. E acredito que, se soubessem mais sobre o feminismo, não teriam mais medo dele, porque encontrariam no movimento feminista esperança para sua própria libertação das amarras do patriarcado”.


Vocês (homens) precisam entender, primeiramente, que não negamos a diferença, negamos a desigualdade. Se impôs uma hierarquia entre gêneros e, essa hierarquia que gera a desigualdade de gênero. A desigualdade proporcionou a vocês (homens) lugares de privilegio, em contrapartida, vocês pagaram e pagam um preço por isso. É preciso a conscientização sobre esse preço, para que vocês (homens) entendem suas amarras.


A estrutura de sociedade cisheteropatriarcal branca também atingiu vocês (homens). Quando falamos sobre gênero e masculinidades, percebemos que esses atravessamentos e construções ocorrem desde a infância, nas divisões e diferenças de tratamento e cuidado com as crianças. É mais fácil criar meninos do que meninas? Com eles é preciso se preocupar menos? Por quê? Seriam eles “naturalmente” mais resistentes, independentes e fortes desde pequenos? Já parou para pensar em como olhar as coisas desse jeito, separando tudo como “menino é isso" e "menina é aquilo”, afeta o desenvolvimento dessas crianças, futuramente pessoas adultas?


Essas divisões e diferenças na construção psicossocial, faz com que os meninos cresçam imersos numa realidade em que acreditam e sentem, desde muito cedo, que não precisam de cuidado, do outro e de afeto. O que parece ser independência, pode se constituir em um processo solitário, de contenção de emoções e até mesmo processos de negligência com o autocuidado. Quem não é cuidado e não aprende a se cuidar, também vai ter dificuldades para aprender a cuidar dos outros. Esse formato de criação pode resultar, na vida adulta, em homens endurecidos, negacionistas de sua própria vulnerabilidade humana, que se sentem imbatíveis e imortais. 


Além de, também, existir uma diferença muito presente na criação de meninos na periferia. Se por um lado o garoto precisa se “tornar homem” logo cedo, por outro, existe uma preocupação com a segurança dessa criança. No caso dos meninos negros, isso fica ainda mais evidente. Pessoas negras foram historicamente destituídas de sua humanidade para corresponder à ideia de que são mais fortes que as outras. No caso dos homens, isso é sentido logo na infância, e gera consequências na vida adulta.


“A realidade é que os homens estão sofrendo e que toda a cultura lhe responde dizendo: por favor, não nos diga o que você sente” bell hooks

O peso de ser provedor, custou uma vida desgastante de carga de trabalho desumana. A necessidade de ser viril para se “fazer” homem, acarretou situações físicas e psicológicas descompensadas. A falta de letramento emocional, gerou a incapacidade de se relacionar de forma saudável. O estereótipo construído sobre o gênero masculino, forjou uma masculinidade que agride e violenta toda a sociedade, quem está próximo e, a si mesmo. 


São vocês (homens) a maioria entre as vítimas de homicídios, assim como são a maioria entre os autores de assassinatos. São vocês (homens) que mais morrem por acidentes de carro. São vocês (homens) que mais cometem suicídios. São vocês (homens), a grande maioria, da população carcerária e em situação de rua. São vocês (homens) que menos cuidam da saúde física e mental. São vocês (homens) a maioria da população usuária de substâncias licitas e ilícitas. São vocês (homens) a maior porcentagem dos autores de violência doméstica.


O sinônimo de ser homem, trouxe a esse gênero atribuições que vocês (homens) nunca conseguem alcançar. Vocês (homens) precisam ser tudo, mas foram ensinados a quase nada. Quando criança, são apartados de uma educação autônoma, emocionalmente de qualidade e psicologicamente saudável. Quando adultos, ou se tornam moleques inconsequentes carregados de consequências ou se tornam meninos bobões dependentes dos cuidados alheios.


Estamos caminhando para uma sociedade que não mais aplaude vocês (homens), de forma tão cega. As questões de masculinidades (no plural) estão sendo discutidas. As consequências para os mais irresponsáveis estão chegando. Então, até quando vocês (homens) vão negar seus lugares nessa luta, em detrimento de privilégios ganhos à custa de desigualdades e malefícios para vocês (homens) mesmo e para todos em volta?


Será que ainda está valendo a pena, não saber se relacionar, se colocar em lugares de perigo, infringir sua moral e ética, perder a saúde física e mental, desperdiçar potencialidades, em troca de uma masculinidade amparada, em um padrão que nem funciona mais para essa sociedade que vem sendo construída? Será que não vale a pena evoluir como ser que faz parte de uma sociedade que está em busca de justiça social e equidade? Você, homem, o que quer ser quando crescer?


Quando vocês (homens) estão mais preocupados em demonizar e culpabilizar as mulheres do que, de fato, buscar um consenso para resolver de forma estrutural os problemas que atinge toda a sociedade, essas reclamações perdem força e conexão com a realidade e com possibilidades de mudança real. No geral, vemos uma postura de "terceirizar a responsabilidade". Apaga-se o fato de que foram vocês (homens) que construímos estes instrumentos sociais - a maioria nos cargos de poder e de decisão que formam esse sistema usado para punir, controlar e excluir, não só grupos minorizados, mas também aos homens hegemônicos – homens brancos heterossexuais.


Aqui vão conselhos: procure se desfazer de muito do que aprendeu até aqui. Leia mulheres, ouça mulheres, conviva com mulheres para além do interesse sexual, tenha amigas mulheres para dialogar, faça terapia, desenvolva suas emoções, tenha interesse no feminino como aprendizado. Aprenda a ser um indivíduo autônomo, independente, capaz de realizar tarefas básicas de limpeza e cuidado. Entenda que a sociedade está se movimentando e, que o que hoje você julga ser confortável para o seu gênero, daqui um pouco mais, não será bem assim.


É sobre homens que farão parte de uma sociedade mais igual para mulheres e meninas, para pessoas negras e indígenas, com e sem deficiência, LGBT ou não. É sobre fazer parte das mudanças necessárias para avançarmos como sociedade. O movimento feminista te convida a olhar em direção a um caminho para romper o ciclo de uma masculinidade dura e irresponsável. Desta forma, construiremos possibilidades de futuro com masculinidades que não precisarão de adjetivos como “saudáveis” ou “positivas”, elas apenas serão tudo isso, pois estarão abertas à experiência de ser e existir com menos pressões e com mais alternativas. Para se fazer homem, tem um infinito de possibilidade, que não as que geram desigualdade, violência e amarras. Acredite, é possível.


“Podemos orientar, instruir, observar, partilhar informações e competências, mas não podemos fazer pelos meninos e homens o que eles devem fazer por si próprios. Nosso amor ajuda, mas por si só não salva meninos ou homens. Em última análise, os meninos e os homens salvam-se quando aprendem a arte de amar”. bell hooks

REFERÊNCIA:

  • Papo de Homem , Canal de conteúdo do Instituto PDH. Atuam com treinamentos, palestras e ações pró-equidade pensadas especialmente para homens.

  • Ser Cabra Macho, Coletivo formado para promover o debate sobre masculinidades e parentalidades com foco na igualdade de gênero.

  • bell hooks - "Tudo sobre o amor"

  • Livro "Seja Homem" JJ BOLA


IMAGEM: artista Gerhard Assini

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