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  • Foto do escritorYanara Miranda

INTERSECCIONALIDADE: você sabe o que significa esse conceito?

O que é ser mulher? Ser mulher é uma identidade somente? O conceito de mulher é universal? Há uma universalidade dentro da categoria mulher? Não somos iguais em quanto sujeitas. Somos múltiplas, pois nossos atravessamentos sociais são diversos.


Interseccionalidade é mais do que um conceito – é uma teoria e também uma ferramenta de luta política que nasce do cotidiano, dos enfrentamentos e dos desafios políticos das mulheres negras que envolve interpretações teóricas da realidade a partir de certo ponto de vista. A interseccionalidade tem como objetivos trazer a lógica de que mulheres negras são repetidas vezes atingidas pelo cruzamento e sobreposição de gênero, raça e classe.


Sojourner Truth abolicionista afro-americana e ativista dos direitos das mulheres fez um discurso na convenção dos direitos da mulher, em 1851, nos EUA, que dizia:

“Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei juntei palha nos celeiros e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou uma mulher? Eu consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem – quando tinha o que comer – e também aguentei as chicotadas! E não sou mulher? Pari treze filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou uma mulher?”

O discurso de Sojouner, quebra o mito da fragilidade da mulher, edificado sobre a imagem da mulher branca, aquela que precisa ser protegida, construído e fortificado pelo sistema político patriarcal racista.


Esse mesmo sistema patriarcal racista, que construiu um ideário de mulher, baseado na mulher branca, classe média, com suas belezas eurocêntricas, vistas como referência única da possibilidade do belo, do frágil, em nome de uma articulação para alcançar uma igualdade para com os homens brancos.


Mas o que constituiu em relação as mulheres negras? As outras sujeitas autonomeadas mulheres? Elas não foram e não são objeto de proteção. Não foram e não são objeto desse ideário de fragilidade. As mulheres negras, por exemplo, foram escravizadas, sexualizadas, destinadas a trabalhos braçais e subalternos. Como também, muitas outras sujeitas, que não são vistas e compreendidas, como mulheres.


Então, eu chego com um dos conceitos mais importante de se compreender, o conceito de Interseccionalidade. Em 1968, uma mulher chamada Emma DeGraffenreid se juntou com outras quatro mulheres negras e processou uma empresa de venda de automóveis por discriminação trabalhista. O argumento dela era de que a empresa não as contratava por conta de sua cor da pele.


A corte, no entanto, concluiu que isso seria impossível pois a organização tinha mulheres brancas como secretárias e homens negros como operários. Por tratar de discriminação de gênero e discriminação de raça separadamente, a justiça não percebia que o problema se encontrava na INTERSEÇÃO entre sexismo e racismo. A partir desse episódio, Kimberlé Crenshaw, uma defensora dos direitos civis americana e uma das principais estudiosa das questões raciais, desenvolveu esse conceito a partir da situação com Emma.


A sobreposição de múltiplos problemas de injustiça social. Conceito que aponta intersecções de raça, gênero e heterossexismo como elementos que impactam negativamente a vida das mulheres que não estão dentro do padrão aceito, sobretudo mulheres negras, reduzindo as oportunidades para essas mulheres.


É a compressão de que o gênero não é o único fator de opressão na vida de uma mulher. Ele se relaciona com outros fatores como classe, raça, identidade sexual, origem regional, etc. além do gênero, oprimindo mais uma mulher do que outra. Não existe uma mulher genérica, não existe uma opressão separada de outras.


A Teoria Interseccional é o estudo da sobreposição de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. Como falamos, ela sugere e procura examinar como diferentes categorias biológicas, sociais e culturais interagem em níveis múltiplos e muitas vezes simultâneos.


A Interseccionalidade sustenta que as conceituações clássicas de opressão dentro da sociedade — tais como o racismo, o sexismo, o classismo, o capacitismo, a xenofobia, a bifobia, a homofobia, a transfobia e a intolerâncias baseadas em crenças — não age independentemente uns dos outros. Essas formas de preconceito se inter-relacionam, criando um sistema que reflete o “cruzamento” de múltiplas formas de discriminação.


Então não podemos falar em opressão das mulheres, sem compreendermos que existem contradições poderosas entre as mulheres. A estrutura de sociedade edificada no patriarcado racista, exclui tudo e todos que não constitui a norma. Ou seja, o ideário de sujeito é o branco, classe média alta, homem e mulher, feminino e masculino. Todo corpo e modo de se colocar em sociedade, que saia fora disso, é oprimido.


Somos muitas, somos múltiplas, não somos uma unidade única e igual. Temos atravessamentos distintos o que nos faz e nos obriga a experienciar situações diferentes. Com isso, não é possível olhar para as questões sociais de uma forma só. É preciso apurarmos nosso olhar para a Interseccionalidade e entendermos que quando estamos falando de mulher, precisamos logo questionar: de que mulher estamos falando?!



REFERÊNCIAS:

  • Sojourner Truth abolicionista afro-americana e ativista dos direitos das mulheres

  • Kimberlé Williams Crenshaw, conhecida pela introdução e desenvolvimento da teoria interseccional, é uma defensora dos direitos civis norte-americana. É uma das principais estudiosas da teoria crítica da raça.

  • Carla Akotirene "Interseccionalidade"

  • Angela Davis "O Legada da Escravidão: parâmetros para uma nova condição da mulher" , "Mulheres, Raça e Classe"

  • Djamila Ribeiro “Quem tem medo do Feminismo Negro?” , "Manual Antirracista"

  • bell hokks “O feminismo é para todo mundo”


IMAGEM:

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