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  • Foto do escritorYanara Miranda

O PERIGO DO FEMINISMO BRANCO

O recado de hoje é, especialmente, para as pessoas brancas: O feminismo não é coleguismo. O feminismo não é clubismo. O feminismo não é luta por benefícios ou por vantagens. O feminismo não é manutenção de privilégios. O feminismo não é luta individual. O feminismo não é o contrário do machismo. O feminismo não é mulheres contra homens. O feminismo não é um movimento apenas para mulheres. O feminismo é um movimento de mulheres que lutam por equidade e justiça social.


No Brasil, o movimento feminista teve início no século XIX, com reivindicações ao voto e a vida pública. Desde 1970, militantes negras estadunidenses denunciaram a invisibilidade das mulheres negras dentro das pautas do movimento. No Brasil, o feminismo negro começou a ganhar forca no fim da mesma década e no começo da seguinte, lutando para que as mulheres negras fossem sujeitos políticos.


Algumas pensadoras feministas trouxeram críticas sobre o conceito da mulher universal, pois esse é um discurso excludente. As mulheres são oprimidas de modos diferentes, tornando necessário discutir gênero com o recorte de classe e raça, levando em conta a especificidade de cada um. Enquanto o movimento feminista no século XIX reivindicavam que mulheres pudessem sair da vida privada para trabalharem na vida pública, as mulheres negras já faziam isso a muito tempo. Inclusive, até hoje, mulheres negras largam suas casas, seus filhos, e vão trabalhar dentro das casas das mulheres brancas. Há uma grande contradição feminista nisso, não há?


“A mãe do brasil é uma mulher indígena e a parteira uma mulher preta”. O brasil é um país colonizado, a partir e através, do massacre dos povos indígenas e a escravização dos povos africanos. Ou seja, a base histórica desse país construiu estruturas injustas, que privilegia uns em detrimento de outros, então, falar de justiça social, no país Brasil, é dialogar, o tempo todo, com o viés da raça. Se o feminismo não é decolonial, ele continua sendo um movimento excludente.


Entender que o feminismo precisa dialogar com outras raças não anula a história do feminismo branco, pelo contrário. Muitas pensadoras brancas foram e são importantes para a construção do movimento feminista. Muitas conquistas foram alcançadas através de suas análises e lutas. Mas quando o feminismo negro chega, trazendo questionamentos pertinente, conceitos como a interscecionalidade, então, o feminismo como justiça social, se faz completo.


Toda mulher se beneficia das lutas feministas – as que se auto declaram feminista ou não – se você tem hoje o direito de votar, de estudar, de trabalhar no campo publico, de expor suas falas e pensamentos por exemplo, agradeça ao movimento feminista. Mas existe desigualdades que hierarquizam as dinâmicas sociais que precisam ser pensadas através da interscecionalidade.  Onde em determinadas situações, o gênero vai prevalecer, em outra a raça ou classe. Não é uma disputa de quem é mais importante, é a compreensão de um sistema social que foi estruturado de tal maneira. Por isso, que fazer justiça social é tão complexo.  A ciência, aqui, é humana, não exata.


Exemplos: Se uma situação a ser analisada, está ocorrendo com duas mulheres brancas, de mesma classe social, então podemos dialogar do mesmo lugar. Se uma situação a ser analisada, está ocorrendo entre duas mulheres, uma branca e outra negra, mesmo de classe social iguais (o que é muito difícil, levando em conta que no pais Brasil, a raça tem relação direta com a classe), não é possível dialogar do mesmo lugar. Se uma situação a ser analisada, está ocorrendo entre uma mulher e um homem, ambos da raça branca e mesma classe social, vamos dialogar em um lugar. Se a raça desses indivíduos for diferente, vamos dialogar em outro lugar.


É preciso pensar no gênero, como é preciso pensar na raça. Pois, levando em conta nossa estrutura de sociedade, a raça é um conceito que configura desigualdades. Não é possível falar de justiça social, sem dialogar diretamente com o feminismo negro e as questões dos povos originários. Se uma mulher branca, reivindica justiça, sem analisar outras raças, o que essa mulher está fazendo é apenas manutenção de privilégios.

    

“Negar fatos sociais para impor uma opinião é um problema sério de megalomania. Em alguns casos, é síndrome de privilegiado. O que mais me assusta é a pessoa nem sequer se importar se sua opinião tem relação com a realidade ou se é disseminadora de preconceito”.

Em um pais que tem as bases racista, o feminismo fica perigoso quando ele é apenas branco. Mais que perigoso, a luta se torna injusta, porque é excludente. Por isso, é muito comum vermos mulheres brancas reproduzindo machismo. Na pirâmide social, essas mulheres são mais próximas dos homens. O que faz parecer para elas, mais fácil negar outras raças e efetuar parceria direta com os homens brancos. Consegue me entender?


Se o feminismo nega outras raças, ou seja, se mulheres brancas utilizam de pautas do movimento feminista para justificar preconceitos de raça, além de estarem esvaziando pautas importantes, utilizando o movimento de muleta, estão fazendo apenas a manutenção de privilégios. Não podemos usar o feminismo para justificar erros e ações contraditórias. O movimento feminista não é clubismo.


“A descolonização de mentes precisa estar alinhada com a desconstrução do patriarcado, pois apenas com igualdade, liberdade e reparação das discriminações e opressões que se alcançará a assunção das minorias historicamente estigmatizadas. ”

Com a estrutura social que o Brasil tem, só é possível fazer justiça social se o movimento feminista estiver junto com outros movimentos, se mulheres brancas tiverem suas bases e referências no movimento feminista negro. O movimento feminista não é possível, sem dialogar com beel hooks, Angela Davis, Carla Akotirene, Leticia Nascimento, Joice Berth, Djamilla Ribeiro, Zélia Amador de Deus, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Lélia Gonzales. Itamar Vieira Junior, Silvio Almeida, Alton Krenak, Barnara Carine, Chimamanda Ngozi Adichie, Geni Nunez, Nego Bispo e muitos, muitas e muites outrxs pensadorxs decoloniais.


“Uma perspectiva africana de gênero, nesse sentido, torna-se uma importante ferramenta metodológico-teórica, e também política, para evitar a reprodução de padrões coloniais de construção de conhecimento "


REFERÊNCIAS:

  • Documentário Guerras do Brasil

  • Ailton Krenak , líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro da etnia indígena Krenaque

  • Sônia Guajajara,  indígena do Povo Guajajara/Tentehar e ministra dos Povos Indígenas

  • Angela Davis "O Legada da Escravidão: parâmetros para uma nova condição da mulher" , "Mulheres, Raça e Classe"

  • Djamila Ribeiro “Quem tem medo do Feminismo Negro?” , "Manual Antirracista"

  • Cida Bento ""O pacto da branquitude"

  •  Zélia Amador de Deus "Caminhos trilhados na luta antirracista"

  • bell hokks “O feminismo é para todo mundo”

  • Silvio Almeida “Racismo Estrutural”

  • Carla Akotirene

  • Aníbal Quijano

  • Luana Genot

  • Kabengele Munanga

  •  Lélia Gonzalez


IMAGEM;

Artista Lilia Quinaud

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