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  • Foto do escritorYanara Miranda

PRESSÃO ESTÉTICA

O que parece ser apenas escolhas pessoais, estão atreladas diretamente a padrões estabelecidos socialmente, em relação a uma pressão estética desumana e inalcançável.  A padronização de corpos está relacionada a pressão social de dominação sobre um padrão de beleza. Entende-se que esse padrão varia de acordo com o tempo, o espaço e a cultura. A imagem do corpo padrão e tido como perfeito é uma construção histórica, social e cultural.


A necessidade de expor a raiz dessa questão é para que possamos construir um entendimento sobre problemas que parecem ser individuais, mas que está carregado de uma construção coletiva e social.  Antes de pensar em mudar qualquer coisa em nossos corpos, seria importante que tivéssemos a consciência da origem de todas essas supostas insatisfações e infelicidades.


O livro, "o mito da beleza" de Naomi Wolf fala sobre o ideal de beleza inatingível, e nos descreve como esse padrão estabelecido serve a um projeto econômico — quanto mais odiamos nossos corpos, mais o mercado e a indústria lucram — e a um projeto político, já que tem por objetivo nos enfraquecer e, com isso, diminuir nosso poder.


Em uma pesquisa recente, crianças com 8 anos de idade, já estão dando sinais de insatisfação com o próprio corpo. Os resultados mostraram que, aos 8 anos, 5% das meninas e 3% dos meninos estavam insatisfeitos com a aparência de seu corpo. Já aos 14 anos, esse número subiu para 32% nas meninas e 16% nos meninos. Nessa mesma idade, 38,8% das meninas e 12,2% dos meninos tinham comportamentos relacionados a distúrbios alimentares, como fazer dietas exageradas, tomar laxantes ou comer compulsivamente.


O padrão de beleza estabelecido pela sociedade muitas vezes adoece as pessoas – física e, principalmente, mentalmente, conforme explica a psicóloga Letícia Souza. “Os parâmetros estéticos deliberados socialmente são elementos condicionantes para o adoecimento mental, visto que as pessoas necessitam das interações sociais e percorrem caminhos para assemelhar-se. Porém, o que é estabelecido socialmente como uma estética aceitável e desejável é incompatível com a pluralidade de corpos, sujeitos e subjetividades”, afirma. 


O quanto podemos dizer que nosso referencial é escolha genuína e, o quanto nossas escolhas tem como referência uma construção social que segrega, quem é belo quem, não é? Nossas atitudes estéticas são a partir de escolhas pessoais ou a partir de referenciais sociais? Nossa sociedade segrega pessoas a partir de sua estética. O corpo aceito, bem quisto, admirado, exaltado, amado, é fruto de padrões de estética estabelecido. Quem quer ficar de fora?


O pensamento de que existe um “corpo perfeito” e que é possível alcançá-lo é amplamente divulgado e incentivado, fazendo com que as pessoas encontrem defeitos em seus corpos e passem, então, a viver uma relação complexa com a própria imagem, levando, principalmente, à não aceitação de suas características e à busca incessante pela eliminação de traços que são próprios de sua existência.


A indústria da beleza, estabelece padrões inexistentes e impõe modelos estéticos. Essa indústria cresce mais a cada dia no Brasil e no mundo, e as mulheres são as principais atingidas e prejudicadas por ela. A indústria da beleza e o capitalismo dialogam à medida que, com o objetivo de vender produtos e procedimentos, é divulgado como necessário um cuidado exacerbado com a aparência que, na verdade, tem o objetivo final de lucrar com a insegurança e com o desejo de possuir algo inalcançável que são cultivados dentro das mulheres.


Entende-se que tal pressão estética funciona como uma forma de violência simbólica (muitas vezes não percebida) contra a mulher. Como consequência dessa situação, que acontece de forma silenciosa e não aparente, percebemos que mulheres adoecem, sofrem mutilações físicas e podem chegar até a morte devido à tentativa de se adequar a um “padrão” estético que sequer existe.


É importante, ainda, o olhar interseccional sobre essa temática: a forma como a pressão estética atinge mulheres negras, por exemplo, é diferente da maneira como impacta mulheres brancas. O padrão visto como “ideal” na sociedade ocidental é um padrão com traços europeus, que envolve o nariz fino, a pele branca, o cabelo liso. Esses são traços que não são típicos do povo preto — e nem dos seus descendentes, que compõem a miscigenação presente em boa parte do país —, o que faz com que, consequentemente, as mulheres negras se enxerguem e, por vezes, sejam vistas como menos bonitas, fato que escancara, ainda, o racismo intrínseco à pressão estética.


Algo semelhante acontece com as mulheres gordas, que constantemente têm sua imagem associada a doenças ou ao desleixo e, assim, são imersas em um pensamento que considera seus corpos como inferiores ou menos capazes. Isso faz com que elas sejam consideradas também como menos bonitas, destacando, agora, a gordofobia.


A pressão estética é uma violência direcionada aos indivíduos, mas que tem suas raízes na construção da sociedade. Não podemos esquecer que quando falamos que a questão tem raiz na construção social, somos nós quem construímos a sociedade. É urgente que façamos vigilância sobre essa temática – como indivíduo e como coletivo. Práticas como falar do corpo alheio, usar perda de peso como elogio e sinônimo de felicidade, compartilhar fotos difamando corpos, por exemplo, precisam ser banidas do nosso cotidiano. Assim como, cobrar para que marcas incentivem a diversidade de corpos, fortalecer a autoestima de pessoas diversas, cobrar que sejam elaboradas metidas a nível de políticas públicas, cobrar mudanças nos espaços coletivo público e privado, e até mesmo desconstruir seu olhar para o referencial do que é belo, entre outras coisas.


O padrão de beleza nada mais é do que uma criação feita, justamente, para ser inatingível. É assim que as estruturas patriarcais racistas mantêm as mulheres, ocupadas com o ideal de beleza e cansadas demais para se preocuparem com a liberdade e a autonomia. Se sabemos que o ideal, por natureza, é inatingível e que ele serve para manter as estruturas de dominação, pressão e opressão contra corpos femininos, principalmente, então podemos pegar esse mito e redefini-lo como bem entendermos. Já pensou que libertador se começarmos nos aceitar? Já pensou que revolucionário seria se nós traçarmos nossos próprios ideais? Que possamos, um passo de cada vez, caminhar para esse outro mundo possível. É uma luta e tanto, a gente sabe, mas que requer uma prática constante de desconstruir o olhar com o qual nos ensinaram a enxergar.



REFERÊNCIA:

  • Artigo para a Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher e Relações - Anni de Novais Carneiro e Silvia Lúcia Ferreira

  • Livro "'O Mito da Beleza"" - Naomi Wolf

  • bell hooks

  • Psicóloga Letícia Souza


IMAGEM:

Artista Pink Bits

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