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  • Foto do escritorYanara Miranda

SEXUALIDADE FEMININA – “Senta que nem mocinha”

Atualizado: 6 de dez. de 2023

A sexualidade feminina, foi construída nas bases da repressão, mantida através do controle cultural vigilante; uma fusão entre sexualidade e reprodução dentro de uma matriz cultural e social heteronormativa. Enquanto pênis, são superestimados e supervalorizados na nossa sociedade, a vagina é um órgão para se ter vergonha e esconder.


“As mulheres nesta cultura vivem com medo sexual como uma pele extra. Cada uma de nós a veste de maneira diferente, dependendo de nossa raça, classe, preferência sexual e comunidade, mas desde o nascimento todas aprendemos bem nossas lições. A sexualidade é perigosa. É assustadora, inexplorada e ameaçadora …”

O corpo feminino é visto com pudor e tabu, historicamente conduzido como algo a serviço do outro e para reprodução. Assim, ao longo da nossa formação, vamos sendo castradas, com discursos que inibem o conhecimento sobre corpo e prazer. A menina precisa se comportar adequadamente, e isso dialoga com o nosso crescimento psicossocial. Esse medo do prazer sexual, e de considerar as possibilidades que esse prazer sugere para se imaginar de maneira diferente, está diretamente ligado à construção da sexualidade das mulheres como “ruim”, “suja” e “moralmente corrupta”.


Vários mecanismos são impostos: as pernas mantidas cruzadas para esconder o que temos em baixo da saia, a repressão ao colocarmos as mãos em nossas próprias vaginas, a vergonha da menstruação, das mamas em desenvolvimento, o discurso moralista e sexista a respeito de comportamentos ditos como inapropriados para mulheres, etc.


O corpo da mulher é colocado socialmente a serviço do prazer do outro e/ou para fins reprodutivos. Pouco importa, o prazer feminino, e muito menos, as escolhas dessa mulher sobre seu corpo. O resultado é um beco sem saída sexual e político de violação e repressão. Mulheres adultas que não conhecem o próprio corpo e não são autônomas de seu prazer e de suas escolhas.


Dados recentes revelados na pesquisa Prazer Feminino, conduzida pela Hibou, mostraram que mais de 79% das mulheres já fingiram orgasmo. Desse total, 64% está em algum relacionamento. 42% das mulheres afirmam que costumam ter dificuldade de atingir um orgasmo. As justificativas para isso estão entre terminar logo o ato (53%), agradar o parceiro (30%), evitar explicações (17%) e constrangimentos (15%). Mais de 30% das mulheres nunca sentiram orgasmo.


71% das mulheres afirmam que já se masturbaram e colhem os benefícios da prática, como o autoconhecimento, alívio de estresse e tensões, prevenção de infecções, entre outros pontos positivos apresentados por médicos e ginecologistas. Essas, disseram que dessa maneira é mais fácil atingir o orgasmo, tanto que 96% afirmam terem experienciado orgasmos por meio da masturbação. 57% afirmam que já usaram um vibrador ou outro acessório. Embora seja uma prática saudável, 29% não praticam masturbação, 62% não se sentem à vontade; 9% acham errado e 7% não sentem prazer.


A masturbação não é uma ação para se envergonhar e inclusive, é saudável - 42% consideram uma prática natural; 21% a analisam como um método de autoconhecimento sexual; 12% veem como um modo de atingir o prazer quando estão sem parceiros; 6% veem como uma modalidade de sexo como outra. Já 11% não pensaram a respeito e 2% a avaliam como prática pela qual se envergonham.


Nas praticas sexuais, 24% das mulheres tem medo de engravidar, 23% tem medo de contrair doenças, 13% tem medo de não ter um orgasmo. Porém esses números estão atrás da insegurança de que o parceiro perca o tesão nelas (29%).


“Percebemos que a sociedade ainda tem grande poder quanto à sexualidade feminina. Muitas mulheres colocam seus parceiros à frente dos seus próprios interesses sexuais e buscam agradar ao outro”, Ligia Mello.

Nos últimos anos, houve uma mudança, com as discussões começando a vincular a saúde reprodutiva aos direitos das mulheres ao comportamento sexual seguro. Discursos sobre direitos sexuais também foram incorporados, ao crescente trabalho sobre saúde reprodutiva e bem-estar das mulheres. No entanto, muitas conversas continuam a girar amplamente em torno do que é culturalmente sancionado e permitido.


As questões em torno da reprodução e da sexualidade das mulheres têm sido frequentemente despolitizadas, com foco no gerenciamento eficiente e pragmático do planejamento da maternidade e da família e na proteção eficaz contra doenças e violações. A conversa sobre sexualidade feminina tem acontecido, mas os “direitos” foram, portanto, explorados dentro dos parâmetros aceitáveis das prescrições culturais sobre os papéis e corpos das mulheres.


A escolha pelo prazer sexual deve ser imaginada como algo que vai além das demandas por segurança e proteção contra violações sexualizadas nas esferas pública e privada: “o prazer sexual é fundamental para o nosso direito, a um estilo de vida seguro e saudável. Tem que ser, tudo o que ainda não começamos a dizer e fazer como mulheres, que sabemos que nossas vidas podem ser diferentes, se tivermos apenas a coragem de sair das gaiolas das práticas e valores culturais que não apenas nos oprimem, mas também nos auxilia a ditar os termos de nossa “liberdade”.


REFERÊNCIAS:

  • Ligia Mello - coordenadora da pesquisa ""prazer feminino"" e sócia da Hibou.

  • Livro "Mulheres que Correm Com os Lobos""

  • “O feminismo é para todo mundo” bell hokks

  • “Feminismo em Comum” Marcia” Tiburi

  • “Para Educar Crianças Feministas” e “Sejamos Todos Feministas” Chimamanda Ngozi Adichie

  • Historia da Sexualidade, Michel Foucault


IMAGEM:

Artista Pink Bits

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